sábado, 12 de junho de 2021

Atemporal

Tudo que eu vejo são migalhas do tempo sendo devoradas pelas formigas do esquecimento.

Tudo que eu já fui nunca mais vai existir, a menos que seja verdade a ordem temporal quântica.

O tempo é um parâmetro inventado pela memória para poder ser carcomido por formigas ou escrito em santuários. 

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Noite

O mais singelo da noite é suave como um veludo
É aquela luz que aparece quando a retina se amostra
Aquela penumbra azulada que só mostra os detalhes mais acentuados do corpo em que toca
Silhuetas
Silhuetas azuis sorridentes, se observam
Se conhecem sem se ver por completo
Se contemplam

Suor e gotas de orvalho se confundem
Camuflados na noite
Não percebem as cores das flores, mas sentem seu cheiro
Que importa as cores das flores?

Entre grilos intercalam-se suspiros, risos, gemidos
Respiração forte
Os dedos são os olhos da pele
E a noite é uma estrela cadente deitada no meu colo

livre

O medo é um emaranhado feito de fios e nós
Os nós que prendem, mas não unem
Se possível for, olhe através
O amor só é livre na verdade do curioso
O desejo só é inteiro num corpo solto

Aprendi isso com você
Que a cócega é a fuga do toque
Um choque de almas
É o tropeço da cadência
A espontaneidade do não
E quanto tempo eu demorei pra perceber
Que a liberdade começava de algo tão singelo

quarta-feira, 1 de maio de 2019



Ave de rapina

Nao se trata do suor 
Nervos entrelaçados
Pernas descruzadas
Batimento adido 
Pesos corporais
Dores abdominais
Termogenicos sentidos 
Pedras piladas
Fundaçao das juntas
Pregos torcidos
Chuvas torrenciais 

Trata-se da janela
Cortina batendo
Areia voando
Fixo cobogó 
Vento seco
Destimidez da íris 
Agua em suspensão 
Ave de rapina

Da ave de rapina

Da ave de repente
Tremor matinal
Escuro da luz
Arrepio da gramínea 
Gozo do orvalho
Ereçao do espectro
Prisma e sol
Frescor transparente
Matéria sem corpo

domingo, 3 de abril de 2016

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

“porque se a justiça consiste em dar a cada um o que é seu, dê-se ao pobre a pobreza, ao miserável a miséria, ao desgraçado a desgraça, que isso é o que é deles... Nem era senão por isso que ao escravo se dava a escravidão, que era o seu, no sistema de produção em que aquela fórmula se criou. Mas bem sabeis que esta justiça monstruosa tudo pode ser, menos justiça. A regra da Justiça deve ser a cada um segundo o seu trabalho, (...) enquanto não se atinge o princípio de a cada um segundo a sua necessidade.” João Mangabeira
"A Opção Pela Casa Própria Unifamiliar
(...) Para o trabalhador, a casa própria simbolizava o progresso material. Ao viabilizar o acesso à propriedade, a sociedade estaria valorizando o trabalho, demonstrando que ele compensa, gera frutos e riqueza. Por outro lado, a difusão da pequena propriedade era vista como meio de dar estabilidade ao regime, contrapondo-se às ideias socialistas e comunistas. Com isso, o Estado estaria disseminando a propriedade em vez de aboli-la e, assim, promovendo o bem comum. Os trabalhadores, deixando de ser uma ameaça, teriam na casa própria um objetivo capaz de compensar todos os sacrifícios; já o morador do cortiço ou da moradia infecta estava condenado a ser revoltado, pronto para embarcar em aventuras esquerdistas para desestabilizar a ordem política e social." (Nabil Bonduki Acerca do período da era Vargas, meados da década de 40)